Como eu passei a gostar de comer em público

Sim, comer em público é uma batalha pra muita gente, principalmente mulheres. Nós somos constantemente cobradas por nossa aparência, e o maior medo de muitas mulheres é engordar.

E com isso, gorda ou magra, a gente tá sempre justificando o que come, sempre dizendo que se alimenta bem, que o doce foi só daquela vez. Então muita gente pra evitar dar essas explicações, simplesmente evita comer na presença de outras pessoas.

No caso de pessoas gordas piora, pois não interessa o que você tenha no prato, seja uma salada ou uma feijoada, vai ter sempre alguém pra julgar e fazer comentários críticos.

“Isso mesmo, tem que comer uma saladinha pra emagrecer.” (a pessoa assume que você não gosta de salada, tá comendo porque é gordo.)

“É por isso que não emagrece!” (Tá todo mundo numa pizzaria, tá todo mundo comendo a mesma coisa, e só você é o glutão do rolê.)

E isso pode piorar muito se você está por exemplo numa praça de alimentação, pois corre o risco de pessoas estranhas opinarem sobre o seu prato e o seu corpo, rirem e te apontarem.

Parece futilidade, e é se olharmos de fora, mas vem desse terror de engordar  e de comer perto das pessoas, os distúrbios alimentares, como bulimia, anorexia e até mesmo a compulsão.

E o medo de comer em público está muito ligado a compulsão, pois faz com que a pessoa procure aproveitar toda e qualquer oportunidade em que esteja sozinha para comer. Assim, não precisa se alimentar na frente díz outros.

Por isso tudo, é uma vitória pra mim comer em público e fazer isso me sentindo muito bem, sem medo do julgamento alheio. Por isso também, que eu adoro postar as minhas receitas no instagram. Já passei por muitos traumas relacionados à pessoas próximas me humilhando na hora de comer, em casa dentro da minha família e com um ex namorado abusivo.

Certa vez eu estava em uma brigaderia muito conhecida na minha cidade, pedi minha bebida preferida de lá, que vinha num copo alto desses de milkshake, com chantili em cima e uma bolinha de brigadeiro no topo. Era o final de um dia cheio, cansativo, e eu estava feliz por encontrar com esse namorado e podermos sentar, conversar e comer algo gostoso. Mas na hora que a bebida chegou na mesa e eu dei o primeiro gole, ele se levantou e foi embora. Nunca senti tanta vergonha em público na vida. Depois quando saí da loja ele estava me esperando na esquina e me disse que era nojento e vergonhoso pra ele estar perto de mim, gorda e ainda por cima sem noção de comer uma coisa daquelas na frente de todo mundo.

Foi um dos episódios mais traumáticos que já passei, mas serviu pra me alertar de que o que mais me fazia mal não eram meus hábitos alimentares, e sim o medo, a vergonha, a humilhação e o preconceito das pessoas ao meu redor. Aquilo era destrutivo e eu não iria mais suportar isso, eu não iria mais comer escondido, eu não iria mais justificar um doce ou um pedaço de pizza e principalmente, ninguém mais iria falar assim comigo sem levar um voadora na nuca.

A minha libertação começou aí, depois desse dia não demorou muito pro namoro terminar, eu demorei a perceber o quão abusivo era, e não só por episódios como este. Cheguei a ficar mal com o término, a querer voltar, mas a liberdade e o amor próprio logo gritaram nos meus ouvidos e eu me livrei.

Desde então, nem mãe, nem irmão, nem tia chata e muito menos namorado, ousam falar comigo sobre  o que estou comendo ou não, nenhum fiscal de prato me derruba mais.

E se você que está lendo isso ainda não se libertou, saiba que eu estou aqui torcendo por você. Um dia, pode ser hoje até, a força vem e você não tolera mais ser humilhada por nada. Você vai aprender que ser gorda não é vergonha, que mulher comendo não é feio, que a sua vida e o seu corpo não são da conta de ninguém.

E essa é a história de como passei a gostar de comer em público, se você ainda não chegou nesse dia, tudo bem, mas não demora a chegar, porque aqui a vista é mais bonita, e a vida é mais leve e simples.

Como eu passei a gostar de comer em público

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Helena Sá

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A Garota Rosa Choque, treinadora de unicórnios, adora colorir a pele e os cabelos. Humana do Jimmy, canceriana em sol e ascendente. Don’t cal me flor, amor, querida...

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